A ORIGEM DA CONFISSÃO DE FÉ DE
WESTMINSTER
Prof. Rev. João Ricardo
Ferreira de França.
Introdução:
Falar sobre a confessionalidade
em nossos dias tornou-se algo ultrapassado, algo de um tempo tão distante que
parece ser totalmente irrelevante. Muitos presbiterianos desconhecem sua
identidade bíblico-teológica. Boa parte desta ignorância se dá pelo simples
fator de não conhecer a história da igreja. Isso abarca todos os crentes e de
modo particular os presbiterianos. Como alguém acertadamente disse:
Todavia, ocorre que muitos
presbiterianos ignoram a sua identidade, não sabem exatamente o que são, como
indivíduos e como igreja. Não conhecendo suas origens – históricas, teológicas,
denominacionais [...] muitas vezes quando questionados por outras pessoas
quanto as suas convicções e práticas, sentem-se frustrados com sua incapacidade
de expor de modo coerente e convincente as suas posições[1]
Isso é percebido na falta de conhecimento que muitas de nossas igrejas tem da
Confissão de Fé de Westminster e dos catecismos maior e breve. Este breve
estudo visa apresentar de modo geral, também lacônico, a história da nossa
Confissão de Fé.
I – ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER.
1.1 – A
Inglaterra Católica:
A Inglaterra havia sido católica
Romana até o ano 1534. Mas, o rei Henrique VIII rompeu com essa tradição, e
assim criou a Igreja Nacional da Inglaterra conhecida como Igreja
Anglicana. Desta feita o rei passou a ser o líder supremo da Igreja, embora
houvesse esse rompimento esta igreja nacional ficou com a teologia católica
romana como expressão de sua fé.
No ano de 1547 morre
HenriqueVIII, e sobe ao trono o seu filho Eduardo VI que só “tinha nove anos”[2]. Ele sob a
influência de seu tio o duque de Somerset que era simpatizante do
protestantismo. Fez com que Eduardo implantasse reformas significativas na
Igreja da Inglaterra, entre muitas citamos algumas: “começou-se a administrar a
Ceia de ambas as espécies [ o vinho dado aos leigos, ao povo], permitiu-se o
matrimônio do clero, e foram retiradas as imagens das igrejas”.[3]No avanço da
teologia da reforma protestante na Inglaterra foi a elaboração, sob a liderança
de Thomas Cranmer, dois importantes documentos, ambos influenciados “pela
teologia calvinista: Os Trinta e Nove Artigos e o Livro de Oração Comum.
Várias outras reformas foram realizadas, tendo-se a impressão de que a fé
protestante iria triunfar.Todavia, a morte prematura do jovem rei, em 1553,
interrompeu bruscamente este processo”.[4]
Após a morte de Eduardo VI sobe
ao poder a sua meia-irmã chamada Maria Tudor [ conhecida como Maria, a
sanguinária] católica romana de devoção desejou levar a Igreja da Inglaterra de
volta para Igreja Católica Romana. Muitos líderes religiosos foram mortos,
incluindo o Cranmer, na fogueira por serem protestantes. E muitos outros foram
exilados ou expulsos da Inglaterra, uma boa porte destes foram para a
cidade de Genebra na Suiça, onde o reformador João Calvino tinha grande
influência e ensinava a Palavra de Deus. E muitos destes ingleses absorveram os
ensinos da fé reformada, depois, de um longo tempo, após a morte de Maria
Tudor, sobe ao trono inglês Elizabete para um longo reinado de 45 anos – ela
tinha inclinações protestantes. Logo após ela concedeu permissão aos
protestantes exilados de retornar para a Inglaterra.
1.2 – Os Puritanos: Os Pais
da Confissão de Fé de Westminster.
Neste processo todo surgiu um
movimento que era apegado à teologia Calvinista. Eles queriam uma igreja pura,
um estado puro e um culto puro. Daí eles foram pejorativamente chamados depuritanos.
Um escritor lembra-nos que “o Puritano não podia mais ficar satisfeito com uma
igreja [ a Igreja da Inglaterra] parcialmente reformada, mas desejava uma
Igreja plenamente Reformada”[5]
O que é o puritanismo? “O
puritanismo foi parte do movimento da Reforma Protestante na Inglaterra [...]
começou especificamente como um movimento especificamente eclesiástico [...]
‘começou com uma reforma litúrgica, mas desenvolveu-se numa atitude distinta em
relação à vida’”.[6]Lloyd-Jones nos
diz “o puritanismo verdadeiro, eu sustento, se acha ultima e finalmente no
presbiterianismo”[7].
II – A ASSEMBLEIA DE
WESTMINSTER.
Após
a morte de Elisabete, Tiago VI da Escócia, filho de Maria Stuart, educado
como presbiteriano na Escócia, tornara-se Tiago I da Inglaterra – todavia,
queria manter um sistema episcopal eclesiástico, e assim, decepcionando os
puritanos. Tiago foi sucedido por seu filho Carlos I.
Carlos I era um católico romano decidido. Ele desejava tornar a Igreja da
Escócia e da Inglaterra a se tornar uma igreja governada pelos bispos [ e assim
destruir a noção presbiteriana da Escócia]. Carlos I se tornou alvo dos
escoceses que se uniram aos Ingleses e derrotaram o rei.
O Parlamento Inglês decidiu convocar uma Assembleia para tratar das questões
pertinentes ao culto, à teologia, e ao governo da Igreja da Inglaterra.
Foram convocados 121 teólogos. “As pessoas destinadas a constituir essa
Assembleia eram citadas na convocação, e compreendiam a flor da Igreja naquela
época”.[8]
É bom lembrar que inicialmente “a assembleia recebeu a incumbência de revisar
os Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra a fim de
remover quaisquer vestígios de arminianismo ou catolicismo romano”.[9]
A Assembleia de Westminster iniciou seus trabalhos na “majestosa abadia
com esse nome, em Londres, no dia 1º de julho de 1643, e continuou em atividade
durante cinco anos e meio”.[10]
Os documentos produzidos nesta distinta Assembleia foram os seguintes: 1. A
Confissão de Fé; 2. O Catecismo Maior & Breve 3. O Diretório de
Culto; 4. Forma de Governo Eclesiástico e ordenação; 5. O Saltério. Esses
documentos molduram para nós o pensamento, a teologia e a piedade
presbiteriana.
III – ORGANIZAÇÃO TEOLÓGICA DA
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER.
A forma como a Confissão de Fé de Westminster foi escrita e organizada, mostra
a mente sistematizadora dos puritanos para com as doutrinas bíblicas da palavra
de Deus. Seguindo um todo harmônico eles colocaram de forma ordeira e
sistemática toda a doutrina bíblica na confissão. Esse sistema, sumarizado em
capítulos, pode se colocado de modo prático como segue abaixo:[11]
Como posso saber com certeza
qual é a verdade suprema?
“Das Sagradas Escrituras”
Existe uma Fonte suprema da
verdade?
“De Deus e da Santíssima Trindade
”
Há Alguém no Controle do
Mundo?
“Dos Decretos Eternos de Deus”
“Da Criação”
“Da Providência divina”
Se existe um Deus, então por
que...?
“Da queda do homem, do pecado e
do seu castigo”
Existe alguma esperança?
“Do pacto de Deus com o homem”
“De Cristo, o Mediador”
“Do livre-arbítrio”
“Da Vocação Eficaz”
“Da Justificação”
“Da Adoção”
“Da Santificação”
“Da fé salvadora”
“Do arrependimento para a vida”
“Das boas Obras”
“Da perseverança dos Santos”
“Da certeza da graça e da
salvação”
Então como devo viver?
“Da lei de Deus”
“Da liberdade cristã e da
liberdade de consciência”
“Do culto religioso e do domingo”
“Dos juramentos e votos legais”
Qual deve se a minha relação
com os outros?
“Do magistrado civil”
“Do matrimônio e do divórcio”
“Da Igreja”
“Da comunhão dos santos”
Como Deus lidera seu povo
hoje?
“Dos sacramentos”
“Do batismo”
“Da Ceia do Senhor”
“Das censuras eclesiásticas”
“Dos sínodos e concílios”
Para onde estou indo?
“Do estado do homem depois da
morte e da ressurreição dos mortos”
“Do juízo final”.
Conclusão:
Este
breve histórico é uma introdução primária à identidade presbiteriana ligada a
confessionalidade da nossa Igreja. Esta série de estudos tem como objetivo
traze à lume estas verdades sistematizadas pela Confissão de Fé de Westminster,
mostrando assim, os laços de unidade doutrinária que temos com o
presbiterianismo mundial.
[1] NASCIMENTO,
Adão Carlos. & MATOS, Alderir de Sousa. O que todo
Presbiteriano Inteligente deve Saber, São Paulo: Socep, 2007,
p.9
[2] CAIRNS, Earle
E. O Cristianismo Através dos Séculos. Tradução: Israel Belo de
Azevedo & Valdemar Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008, p.299.
[3] GONZÁLEZ, Justo
L. História Ilustrada do Cristianismo. Tradução: Itamir Neves de
Souza. São Paulo: Vida Nova, 2011, volume 2, p. 75.
[4] NASCIMENTO,
Adão Carlos. & MATOS, Alderir de Sousa. O que todo
Presbiteriano Inteligente deve Saber, São Paulo: Socep, 2007, p
67-68.
[5] LLOYD-JONES,
David Martyn. O Puritanismo e suas origens. São Paulo: PES, p.30
[6] RYKEN, Leland. Santos
no Mundo – Os Puritanos como Realmente Eram. São Paulo: FIEL, 1992,
p.22.
[7] LLOYD-JONES,
David Martyn. O Puritanismo e suas origens. São Paulo: PES, p.33
[8] HODGE,
Alexander A. Confissão de Fé de Westminster Comentada. Tradução:
Valter Graciano Martins. São Paulo: Os Puritanos, 2010, p.41.
[9] LUCAS, Sean
Michael. O Cristão Presbiteriano – Convicções, Práticas e Histórias.
Tradução: Elizabeth Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 126.
[10] NASCIMENTO,
Adão Carlos. & MATOS, Alderir de Sousa. O que todo
Presbiteriano Inteligente deve Saber, São Paulo: Socep, 2007, p
67-68.
[11] KENNEDY, D.
James. Como é Deus – Verdades Transformadoras sobre um Deus Imutável.
Tradução: Josué Ribeiro. São Paulo: Cultura Cristã, 2000,23-24.
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